Este era o meu canal com o MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, de 2006 a 2010, no segundo mandato do governo Lula. Ele foi aberto para perguntas de amigos, que me enquadravam como se eu soubesse de assuntos sérios. Então aqui foi um jeito de ser ouvido por quem estava lá, de forma bem informal, e muitas vezes, nada séria. Os comentários loucos no meio, obviamente são meus.
Entrevista: Ministério sem Mistério
Nepotismo vem dos papas, que davam benefícios aos sobrinhos. Nepotismo, no Brasil, vai além dos sobrinhos: filhas, irmãos, tios… Beneficio-me aqui, da minha condição de filha, para perguntar ao pai, tudo aquilo que deveria saber. Só não peço cargo no governo. Ele nem sequer me daria ouvidos… quem sabe peço ao papa?
Ministro Miguel Jorge: Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Sábado, 16 de Abril de 2011
Final
Qual o maior mercado para produtos brasileiros hoje?
Argentina, União Européia e países árabes.
Que relações comerciais o Brasil mantêm com os países da América do Sul, Central, do Norte, Europa, África e Ásia?
As relações comerciais são excelentes, assim como as diplomáticas e políticas. A América do Sul é um grande mercado para os produtos e serviços brasileiros, especialmente Argentina, Venezuela, Peru, Colômbia. Pode-se dizer que a maioria das grandes obras são tocadas por grandes empresas brasileiras, como Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão etc. Na América Central, as empresas brasileiras também têm boa presença, tanto em bens quanto em serviços de engenharia, embora não seja um grande mercado. Isso se repete na África, por exemplo. A Europa é um grande mercado para nossos produtos, assim como os Estados Unidos. A Ásia é um mercado menor, especialmente por causa do protecionismo chinês e japonês.
Com as guerras nos países árabes, como serão afetadas as transações comerciais com o Brasil?
Neste primeiro momento, elas devem ser afetadas, embora não gravemente. Como a maioria das exportações brasileiras para o Oriente Médio são de alimentos, sempre haverá a necessidade desses produtos. É bom lembrar que, em oito anos, nosso fluxo comercial com os países da Liga Árabe passou de US$ 5 bilhões, em 2002, para US$ 20 bilhões, no ano passado. Ou seja: um salto de quatro vezes.
Os conflitos têm alguma relação com o possível aumento da gasolina anunciado hoje (14/4/2011) no Estadão?
Não, pois não dependemos de petróleo importado: o Brasil é auto-suficiente, produz todo o petróleo de que precisa. Mas, como os preços (em qualquer produto) para os consumidores deveria variar conforme aumentos na produção, seria razoável se supor que o preço da gasolina – e do diesel, do GLP (gás de cozinha), nafta, isto é, todos os derivados do petróleo –, também subisse. Aumentar a gasolina e o diesel tem impacto na inflação, portanto, seus preços são “administrados”, artificialmente, pelo governo federal, para segurar a inflação. Quando o preço do petróleo caiu a menos de US$ 60,00 o barril (hoje, está o dobro), durante a crise de 2008, o preço da gasolina, no Brasil, continuou o mesmo.
O que está acontecendo com a Argentina e o Brasil, em rixa fora dos campos verdes?
No caso do comércio, pelas últimas informações que tenho recebido, voltou, e ainda mais sério, o problema de retenção das licenças de importação de produtos brasileiros. Alguns setores têm reclamado que, este ano, os argentinos têm segurado quase todas as licenças, criando enormes problemas para os fabricantes brasileiros, especialmente de máquinas agrícolas (tratores, colheitadeiras etc), calçados e tecidos.
A presidenta foi enfática sobre as leis protecionistas que impedem o crescimento do Brasil. Ela baterá forte nos parceiros que continuam com tais práticas? Quais os países que mais se aproveitam disso?
Presidenta é uma palavrinha que vou te falar, hein? Eu, como estudanta contínua de português, tenho sérios problemas com a sonoridade da coisa…
Os países mais protecionistas são (sem ordem de importância): Argentina, China, Estados Unidos, Japão e a União Eropeia, como um todo. Em cada país, esse protecionismo se dá de maneira diferente, quase sempre bem mascarada, o que dificulta lutar contra tais procedimentos. Em quase todos, os governos escudam-se no fato de que boa parte das medidas protecionistas são tomadas pelos Parlamentos, o que permite aos poderes executivos dizer que não podem fazer nada contra a decisão de deputados e senadores, que aprovaram leis específicas.
Os Estados Unidos novamente endurecem o diálogo sobre o protecionismo brasileiro. É quase um mantra… É justo?
Esta questão está respondida acima. A desculpa, repetida na recente visita de Obama ao Brasil, é a de que as alíquotas sobre produtos brasileiros foram aplicadas por legislação aprovada pelo Congresso norte-americano.
Tática brilhante de negociação ou tremenda burrice diplomática: na recente visita (Março, 2011) de Obama, o “trato” de não revistar os ministros ter sido desrespeitado, colocando-os em estado de humilhante constrangimento? Isso confere com a forma pela qual o Sr. Obama recebeu a comitiva brasileira quando nos EUA?
Isso é um ultraje e deveria ter recebido uma nota formal de protesto por parte do governo brasileiro. Mas não surpreende: quando a então ministra Dilma Roussef e o ministro do Desenvolvimento estiveram na Casa Branca, o presidente Obama entrou na sala do então secretário de Segurança Nacional, gal. Jim Jones. Obama dignou-se a ficar apenas cinco minutos, e sentado no braço de uma poltrona. Quer dizer, nem sequer sentou-se para conversar com os ministros brasileiros, e menos ainda os recebeu no Salão Oval. Um ano antes, o presidente George Bush ficou quase meia hora conversando com os ministros e ainda participou de duas horas de reunião com o Fórum de CEO Brasil-EUA. Imagino que, se o presidente Obama previsse que a ministra Dilma se tornaria Presidente do Brasil, dois anos depois, teria agido de maneira mais cortês e elegante com autoridades brasileiras.
Há razões para se temer a China? A relação pode ser proveitosa? Nos últimos anos, quais foram alguns dos problemas trazidos por produtos chineses ao Brasil?
A questão não é a de se temer, mas de se competir em igualdade de condições. Há produtos chineses que chegam ao Brasil a preços aviltados, com dumping (concorrência desleal) escandaloso. Não por outra razão, a maior parte das aplicações de medidas anti-dumping do governo brasileiro são relacionadas a produtos chineses. Tivemos também muitos problemas com produtos chineses. Os mais conhecidos foram os de brinquedos da Mattel, produzidos naquele país, e que soltavam pequenas peças que poderiam ser engolidas por crianças. Sua importação foi proibida pelo governo brasileiro. Algumas marcas de carrinhos de bebê também tiveram problemas, o mesmo acontecendo com canetas esferográficas e outros produtos, que não tinham a segurança estabelecida pela legislação brasileira.
Para a GloboNews, em entrevista gravada nas ruas de Xangai, o vice-consul* brasileiro alfinetou que só deve temer a China como parceiro nos negócios, “quem estiver sentado na Avenida Paulista, com medo e tentando se proteger.”. E que deveriam visitar o país, fazer alianças, aprender o idioma. Mesmo? O que a FIESP acharia disso?
Não sei o que a FIESP acha, embora imagine. Esse vice-cônsul teria ganhado muito se tivesse ficado de boa fechada. Ele deveria ter citado, nesse mesmo programa, as práticas protecionistas da China, que importa somente o que interesse a ales – há mais de dois anos, o presidente chinês prometeu ao presidente Lula – e fui testemunha dessa promessa – que o mercado do país seria aberto à carne suína brasileira. Isso não aconteceu até hoje, portanto deixamos de exportar mais de US$ 1 bilhão, pois a China não deixa que nossa carne entre lá. O que eles alegam? Que os produtores chineses abastecem o mercado, portanto eles não precisam importar. Mas nossos produtores abastecem o mercado com toda a porcaria que a China nos manda e deixamos entrar. E por que deixamos? Porque cumprimos nossas obrigações com a Organização Mundial do Comércio. O vice-cônsul deveria ter explicado, ainda, que a China compete porque seus trabalhadores têm uma carga diária de 10 horas, não recebem horas extras, não recebem 13o salário, não têm benefício social algum (aposentadoria, sistema de saúde etc) e náo podem fazer greves. E que a média salarial do país não supera os US$ 50,00 por mês, comparado aos quase US$ 300,00 do salário mínimo (isto mesmo, salário mínimo!) do Brasil.
* Não consegui achar o programa no site do canal, para ver quem falou (se vice ou se Consul, e nome). Vergonha do “warti”…
Por que tanta importação?
Porque a economia brasileira está em franco crescimento, porque o dólar está enfraquecido e porque tem havido a ascensão de milhões de brasileiros para a classe C, dos consumidores, oriundos das classes D e E (esta, quase acabou), o que leva a um consumo muito maior de todos os tipos de bens. Os brasileiros compram sua primeira tevê, sua primeira geladeira, sua primeira máquina de lavar. Nos Estados Unidos e na Europa, posterga-se a intenção de compra, pois como todo mundo já tem tudo, basta esticar um pouco a compra… e a economia para.
Em entrevista no Manhattan Connection, Eike Batista disse que, diferentemente de bancos, ele enriquece gerando empregos e fazendo acordos inclusive com a China; diferentemente de bancos, que pegam o dinheiro e…(ele fez apenas um gesto com as mãos, como se colhesse flores para o peito. Aliás, ele escreve umas coisas meio auto-ajuda, não?)…e, o quê???
Na grande crise de 2008/2009, o Brasil não quebrou, como quase quebraram os Estados Unidos e vários outros países, principalmente porque tínhamos e temos um sistema financeiro sólido, eficiente e lucrativo. Se não tivéssemos esses bancos fortes, o sr. Eike Batista não teria a menor possibilidade de ter feito essa mágica de se tornar um dos homens mais ricos do mundo em tão pouco tempo. Também nunca vi nada que tivesse sido produzido pelas empresas dele.
Boiei com o negócio da Foxconn. Socorro! Aquele negócio de gerar centenas de milhares de empregos no Brasil. O Eike dando emprego… ter mais trabalhadores do que Caraguatatuba. Para mim, reles pessoa, a assunto foi falado em chinês.
Está havendo uma grande confusão. Aquela frase se referia a empresas do sr. Eike Batista. A Foxconn, uma empresa de Taiwan, é uma das maiores, se não a maior, fabricante de de equipamentos eletrônicos do mundo, produzindo para terceiros – não tem nenhum produto com marca própria. A maior fábrica da Foxconn fica em Shenzen, na China, e é uma verdadeira cidade: são 300 mil trabalhadores! No Brasil, tem cinco fábricas, inclusive a que produz o Blackberry, desde no ano passado. A confusão com o sr. Eike, acredito, se deve ao fato de que ele anunciou que tentaria atrair a Apple para fazer o iPad no Brasil, exatamente o que a Foxconn anunciou que acontecerá, a partir dos investimentos dessa empresa. Também, aparentemente, isso nada tem a ver com as ideias do sr. Eike.
Ah… tipo pegando carona no jatinho dos outros…
Por que a demora em privatizar os balcões de embarque nos aeroportos?
Há enormes jogos de pressão nesse assunto. Mas o caso não seria o de privatizar, apenas os balcões de embarque, mas todas as operações dos aeroportos, deixando para o Estado apenas o controle das pistas e do tráfego aéreo. Não vejo sentido em se ter uma empresa estatal para construir lojas em aeroportos para que elas sejam alugadas para vendedores de roupas, de óculos, e de revistas e livros, ou para se instalarem escadas rolantes. Pior: essa empresa estatal reforma os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont e não é capaz nem de projetar novos e amplos banheiros para um movimento de passageiros que todo mundo sabia que cresceria exponencialmente. Resultado: temos ridículas filas até mesmo para se fazer xixi nos aeroportos das duas maiores cidades da América Latina.
Por que falta mão de obra no Brasil? De que tipo? Qual a história com morador de rua?
Porque durante muito anos o Brasil não cresceu, portanto não criou novas chances para os profissionais, que viam o futuro com muita descrença. Quando começamos a crescer, de verdade, apareceram os problemas do País, entre eles, e um dos mais graves, a falta completa de mão de obra. Faltam engenheiros, médicos, químicos, físicos, agrônomos, marceneiros e pedreiros. Quer dizer, falta de tudo, embora sobrem advogados e outras profissionais das chamadas áreas de Humanas.
A solução seria cursos técnicos e escolas profissionalizantes? Esta é uma área que deveria ser olhada pelos empreendedores, empresários, ou o que seja?
O recrutamento a que você se refere ocorreu, realmente, no Recife: moradores de rua, em condições de trabalhar, foram treinados para ajudantes de pedreiro e para pedreiro, pela absoluta falta de profissionais. Como tudo o que acontece no Brasil surpreende, o crescimento acelerado do País, nos últimos anos, criou um grande problema de falta de mão de obra de todo o tipo. Realmente, precisamos abrir centenas de escolas técnicas por todo o país, e se torna obrigatório um enorme salto de qualidade no ensino. Teríamos, mesmo, é que decidir pela qualidade e não pela quantidade. Ao menos, que se universalizasse o ensino, mas que se desse oportunidade aos melhores estudantes a se profissionalizarem bem mais do que ocorre hoje.
Você ainda sustenta a mesma posição sobre energia nuclear, apesar do desastre no Japão, com 3.000 vezes mais radiação nas águas do que seria aceitável, após o terremoto?
Sim, pois o caso japonês se deve muito mais à falta de planejamento e de cuidado. A energia nuclear é limpa e segura, mas claro que isso depende dos protocolos a serem seguidos para a construção, operação e manutenção das usinas. O Japão, por exemplo, deveria ter tomado muitíssimo mais cuidado com suas centrais, pois qualquer criança sabe que o país sofre com terremotos e tsunamis. Continuo com a mesma opinião: não precisamos da energia nuclear (mais cara), pois temos imensas possibilidades em hidroenergia, energia eólica e solar etc. Mas precisamos ter o domínio da tecnologia nuclear.
Quais os países mais peculiares visitados por você enquanto ministro? Como foi a recepção das comitivas empresariais?
A recepção sempre foi calorosa e amigável. É impressionante como o presidente Lula e o Brasil são queridos em todos os cantos do mundo. Quanto aos países, todos são diferentes de nós e entre si: não há nada a ver entre os países africanos e os do Oriente Médio, ou entre países asiáticos e europeus, e entre todos eles. Imagine como podem ser a Noruega, Burkina Fasso, Emirados Árabes, Estados Unidos, Timor Leste, Inglaterra e Cuba, e aí por diante?
Quais os presentes diplomáticos mais curiosos que foram dados durante as missões (ex. dinheiro autografado)?
Uma imagem de uma figura mítica de quase um metro de altura, presente do prefeito de Lagos, na Nigéria; uma nota de 2 pesos cubanos, autografada pelo presidente Raul Castro; 100 mudas de tamareiras do ministro da Agricultura de Omã; vários quéfies – aquele manto árabe – , por vários ministros árabes.
E muitas coisas muito, mas muito cafonas que eu vi, com esses dois olhos que a terra há de comer! Como pratos dourados com o mapa do país, miniaturas de coqueiros prateados, e por aí vai!
Como foram as reuniões em Cuba com Fidel e Raul?
Não me reuni com Fidel, apenas com Raul, e todas as reuniões foram muito boas. Abrimos o mercado cubano para produtos e serviços. O maior porto do Caribe, em Mariel, está sendo construído por uma empresa brasileira. É uma obra da maior importância para toda a região.
Para quais parceiros o Brasil deveria estar olhando com maior atenção?
Para os países do Oriente Médio e da África, que são alvo preferencial da atenção dos chineses. No caso africano, especialmente, parece claro que a China tem enorme interesse estratégico nas imensas reservas minerais daqueles países.
Diferente do que se pensa, trabalha-se muito e seriamente nos ministérios?
Muito. Há uma enorme quantidade de funcionários dedicados, sérios, honestos e com um incrível espírito público, especialmente no MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), de quem posso falar com mais propriedade.
Os ministérios deveriam ser compostos por pessoas técnicas ou políticas?
Depende do ministério, pois alguns são mais políticos. Mas alguns ministérios deveriam ser ocupados por técnicos/profissionais, como o MDIC, Fazenda, Minas e Energia, Justiça etc.
Que medidas você não teve tempo de completar durante o ministério?
Várias, mas nenhuma que tenha causado frustração, até porque essas medidas já estavam em andamento, e certamente serão implantadas pelo novo ministro, até porque são de interesse do país. E o novo ministro, além de competente e sério, é muitíssimo bem intencionado.
Agora, puxando sardinha para o meu pai, que me aguentou fazendo essas perguntas idiotas para colocar no site, e que continuará aguentando ainda por muito tempo, muitas outras perguntas idiotas… com audiência poupada! Não estou achando como acentuar as palavras aqui! Desculpem!
Que medidas inovadoras foram tomadas durante seu ministério?
Várias, entre elas: lançamento e implantação da política industrial; grande reestruturação do Inmetro* (passamos de 25 doutorados para quase 200, em quatro anos) e INPI, nosso instituto de propriedade intelectual; completa reformulação dos procedimentos para os processos antidumping, com aplicação de direitos provisórios e redução dos prazos de dois anos para menos de um ano na aplicação das medidas; reestruturação de várias das secretarias do MDIC; criação do Siscoserv, sistema totalmente informatizado para registro e acompanhamento de todas as exportações brasileiras de serviço; criação e implantação do Micro-Empreendedor Individual, em conjunto com o Ministério da Providência, para legalizar 11 milhões de microempresários (camelôs, vendedores de cachorro quente etc), que se tornam empresas e têm todos os direitos (saúde, aposentadoria etc), com o pagamento de apenas R$ 55,00 mensais (este mês, chegou-se a um total de um milhão de microempreendores individuais.
* O Inmetro é um dos mais respeitados institutos de certificação e de metrologia de todo o mundo. O Inmetro avalia e certifica produtos fabricados no Brasil e importados. Por exemplo, todos os capacetes de motociclistas precisam ter o certificado do Inmetro para serem vendidos. O Inmetro tem acordos com os mais importantes congêneres no mundo – Alemanha, EUA, França, Inglaterra etc – para que suas certificações tenham validade em todos esses países.
O que espera para os próximos anos?
No caso do Brasil, espero que o crescimento se mantenha, que a pobreza se reduza, que a educação dê saltos quantitativos de qualidade e que os brasileiros se sintam cada vez mais orgulhosos de seu país.
Quais seus planos profissionais para o futuro?
Continuar trabalhando, mas agora como consultor e conselheiro de algumas empresas.
Outras perguntas importantes que eu deveria ter feito e não fiz?
Acho que nenhuma.
A pergunta que não quer calar, mas é minha: os seus livros saem em breve???
Obrigada aos que tiveram paciência de ler.
Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009
Que países adotaram o sistema japonês de TV digital? O que isso significa para o Brasil?
A Venezuela foi o quinto país da América do Sul a aderir ao padrão nipo-brasileiro de TV digital, depois do Chile, Argentina, Peru e o Brasil, evidentemente. Há negociações em andamento com o Equador e Cuba. A ideia é montar um sistema regional, o que pode aumentar em duas vezes o mercado de aparelhos de tevê (no Brasil, hoje, esse mercado é de 10 milhões de aparelhos/ano). Adotado em 2007, o sistema já cobre 65% do território nacional. A Colômbia e o Uruguai optaram pelo padrão europeu.
Por que a energia nuclear é tão controversa? O Brasil pode utilizá-la?
Houve vários acidentes em usinas nucleares, nos anos 70, culminando com Chernobyl – ainda na União Soviética –, que matou dezenas de pessoas e contaminou milhares. Mas, de lá para cá, a tecnologia usada, assim como os procedimentos de segurança, tiveram enorme avanço. Hoje, considera-se absolutamente segura a energia nuclear. Ainda é preciso resolver a questão dos dejetos, que permanecem ativos por cerca de 400 anos; podem causar graves problemas de saúde e contaminar o meio ambiente, se não forem adotadas medidas muito restritas para seu acondicionamento. Mas a geração de energia nuclear é das limpas, em termos de emissão de poluentes e de gases efeito-estufa.
Fala-se da possibilidade de colocar diesel em carros de passeio. Apesar de mais poluente (ideia na contra-mão mundial), faz mais quilômetros por litro. A bandeira brasileira era o etanol. Carros flex circulam em enorme quantidade pelo país.. Mas agora, iremos ao diesel?
Não, não iremos ao diesel para veículos de passeio – continuaremos a usá-lo, apenas, em veículos de carga (caminhões e caminhonetes, além de veículos 4×4). A bandeira brasileira continua sendo o etanol, para os motores de ciclo Otto (veículos flex-fuel ou a gasolina, com 25% de mistura de etanol), e de diesel, com mistura de 3% de biodiesel, combinação que deve crescer progressivamente.
CPIs cujo tema é “troca de influências” aparecem por todos os lados: do senado à construção civil, com as maiores empreiteiras do país envolvidas. Existe, em algum trabalho com relacionamento humano, a possibilidade de não trocar influência? Quando ela é legal e quando é ilegal?
O trabalho de lobby é perfeitamente possível, em termos éticos – quando ele é feito às claras, com toda a transparência –, e em termos técnicos. Esse tipo de lobby não pode ser confundido com práticas ilegais de ‘troca de influências’, inaceitável em qualquer Estado de Direito.
Ministro, qual a efetiva chance do conceito “territórios” permanecer como unidade de desenvolvimento nas gestões futuras? Esse conceito é amparado por legislação? Traduz um consenso ou corre o risco de ser colocado de lado numa próxima gestão federal?
Abraço, Borges, Bahia.
Micaela, Não entendi essa pergunta.
O Banco do Sul é mesmo uma possibilidade para os países sul americanos livrarem-se de endividamentos e dependência de empréstimos americanos, por exemplo? Os juros seriam muito mais baixos? Como funcionaria? Se todos os membros teriam o mesmo voto, mesmo com economias e depósitos menores em conta, como o Brasil se beneficiaria? Seria um banco multiestatal? Como seria escolhida a direção? Ou haveria conselho?
O Banco do Sul ainda está em discussão, mas a idéia básica é de que seria um organismo multilateral de fomento, aos moldes do BNDES, e que poderia permitir o investimentos nos países-membros, em condições mais vantajosas do que se encontram no sistema financeiro privado. Ainda não foram discutidas todas as questões colocadas na pergunta.
Domingo, 26 de Julho de 2009
O BNDES desloca verba para pesquisas na Amazônia?
Não, pois o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social não aplica dinheiro em pesquisa. Pode, sim, aplicar ou financiar uma empresa que faça pesquisas, inclusive na Amazônia. Mas o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ao qual o BNDES se subordina, também é responsável pela Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa –, que tem, entre suas várias atribuições, o controle do Centro de Pesquisa da Amazônia, o qual trabalha com pesquisas de vários tipos: de sistemas eletrônicos (no Pólo Industrial de Manaus fica um dos maiores clusters de produtos eletrônicos do Brasil), a fitoterápicos, cosméticos… e, ainda, biotecnologia ligada à floresta tropical.
O que está sendo feito sobre patentes de matéria-prima da floresta?
O Brasil tem uma legislação de patente bastante avançada, que protege, inclusive, o resultado de pesquisas em torno de matérias-primas da floresta tropical. O grande problema é que, na maioria de nossas universidades, se faz mais pesquisa pura, ficando em segundo plano a pesquisa aplicada. Como as empresas brasileiras pouco pesquisam, em comparação com muitos países, os resultados, em termos de patentes de produtos desenvolvidos a partir de matérias-primas da floresta, são pequenos.
As medidas de licenciamento da agropecuária na região já estão sendo aplicadas? Como funcionam?
Não estão sendo aplicadas, em sua totalidade, pois é muito difícil a penalização dos criadores. Isso porque grande parte das áreas de pastagem foram ocupadas irregularmente, portanto as terras não têm registro legal, e assim, não têm um responsável civil ou criminal. Somente agora, por iniciativa do governo federal, será feito um levantamento completo dessas propriedades e sua regularização, para que se possam aplicar licenciamentos, cobrar impostos, penalizar quem descumprir a legislação, etc. O que se pretende, ainda, é impedir financiamentos para empresas que criam gado em áreas da Amazônia ocupadas irregularmente, ou impedir a venda de carne que vem dessas áreas (por exemplo, muitos varejistas começaram a exigir certificado de origem da carne, o que impediria essas vendas).
Como desenvolver sem destruir?
Cumprindo fielmente a legislação, pois temos códigos ambientais, civis e penais que impediriam qualquer destruição de qualquer tipo, com a desculpa de que isso seria necessário para o desenvolvimento.
Por que o Sucatão, avião presidencial, não pode sobrevoar alguns países? Que países são esses?
O Sucatão é um Boeing 707, produzido na década de 70, com tecnologia da época, em termos de motores. O avião tem quatro turbinas. Gastam mais e são muito poluentes e barulhentas. São essas razões – poluição e barulho – que impedem que o 707 (e outros, com o mesmo tipo de problemas) voe sobre alguns países, principalmente os que têm restrições muito severas sobre ruídos e emissões. Não sei quais são todos os países, mas posso citar EUA, França, Inglaterra, os escandinavos, etc. Mas, hoje, o Sucatão não é mais o avião presidencial, pois a Presidência da República tem um Airbus 320, comprado há poucos anos, para substituir os Sucatões, que continuam trabalhando para a Força Aérea.
(Ok. O presidente não voa nele. Voa no novo. E o resto da equipe? Hein? Hein?)
Voa, sim, mas legalmente. Isto é, em regiões em que isso é permitido.
O Presidente Berlusconi pinta o cabelo de Acaju? É o mesmo tom que o cabelo do Silvio Santos?
Não chega a ser acaju – pelo menos, no dia em que o vi, pessoalmente. Mas, como vejo em amigos meus que a tintura nunca fica da mesma cor, é possível sim, que, em certos dias, ela seja acaju.
(Na boa, existem ótimos tinturistas no Brasil… Homens de madeixas retintas, uni-vos em prol de uma estética melhor!)
Se o lixo inglês veio parar aqui, onde vai parar o nosso lixo? O que está sendo feito a respeito disso, e de reciclagem no país?
Claro que esse lixo veio para o Brasil de maneira ilegal, presumivelmente pela Ndrangueta, a máfia napolitana, que segundo consta, controla toda a destinação do lixo na Itália, França, Espanha, Inglaterra e alguns outros países. Sabe-se, inclusive, de vários escândalos locais com a descarga de resíduos altamente tóxicos em certas áreas da Europa. No caso desse lixo, o Brasil pediu ajuda à Interpol e às autoridades inglesas, que já prenderam três pessoas, ligadas ao esquema de envio desse lixo para cá. Está no Congresso Nacional – não se sabe quando será aprovada – uma lei sobre resíduos sólidos, muito moderna, e que prevê destinação para, praticamente, todo e qualquer tipo de resíduo sólido. Mas é fato conhecido que a lei, apenas, não adianta: é preciso fiscalizar todos esses processos e penalizar os infratores, o que, infelizmente, não tem acontecido no Brasil, especialmente porque as cidades e os Estados parecem não se preocupar muito com o problema, que é seríssimo.
(Até lá, fechamos os olhos e os sacos pretos para os homens de laranja sumirem com tudo. Ou, se continuarmos bem porcos, jogamos, pelas janelas dos carros e pelas mãos que aremessam salgadinhos e chicletes nos lábios, lixo no chão, para entupir boca de lobo e ajudar nas enchentes anuais…)
O que está sendo feito para expandir os transportes ferroviários e hidroviários no país? Nas cidades, como melhorar o trânsito? O que tem sido feito a respeito? Esses problemas são da pasta do Ministério do Desenvolvimento?
Depois da privatização das ferrovias, estão sendo investidos bilhões de dólares na modernização da malha ferroviária, que ficou abandonada durante mais de 50 anos, na compra de novas locomotivas e de novos vagões para transporte de todo tipo de carga. Também estão sendo construídas várias e importantes ferrovias, além de se planejar a interligação das já existentes e das novas, para se ter, verdadeiramente, uma rede ferroviária e não ferrovias isoladas, que ligam apenas alguns poucos pontos. No caso do transporte ferroviário de passageiros, dificilmente ele voltará a ser importante, no País. A grande exceção é o projeto do trem de alta velocidade – o popular ‘trem-bala’ – entre Rio e São Paulo, com um ramal para Campinas), que deve ser colocado em concorrência nos próximos meses. Este é o maior projeto de trem de passageiros do mundo, atualmente; deverá custar cerca de US$ 14 bilhões. Pretende-se que fique pronto até junho de 2014.
Faz sentido checar emissão de poluentes em carros novos antes do que nos velhos?
Isso é um verdadeiro absurdo e claro que não faz qualquer sentido. Mas se sabe que a fiscalização de poluentes e de segurança veicular, em carros mais velhos, seria uma tragédia, pois reprovaria a maioria. Assim, para se dizer que há um programa de inspeção veicular – e aí está a hipocrisia –, ele começa pelos veículos mais novos. Outro absurdo é que o Brasil é um dos únicos países do mundo em que, quanto mais velho o carro, menos ele paga de impostos. Parece que somos, mesmo, o país dos coitadinhos.
Por que muitas vezes é mais barato comprar sapato brasileiro no exterior do que aqui?
Simples: porque, no mercado interno, você tem de pagar o imposto estadual ICMS – Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (18%) e os impostos federais PIS/Finsocial (9,5%) e IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados (varia entre 15% e 25%). O cálculo é simples: se o sapato custou R$ 10,00 para ser fabricado (aí, incluídos todos os custos de matéria-prima, salários, marketing, distribuição, etc, etc do fabricante), se coloca um mínimo de 100% sobre esse valor, que seria o lucro bruto do fabricante, o que levaria o sapato a R$ 20,00. Depois, se aplica a alíquota de 9,5% sobre esses R$ 20,00, o que dá perto de R$ 21,00. Sobre esses R$ 21,00 se aplicam os 15% ou 20% (conforme o tipo de produto), o que leva o preço a R$ 23,00 e/ou quase R$ 25,00. Mas, como no meio disso tudo ainda há o transporte, mark up do varejista, custos de aluguel da loja, salários dos empregados do varejo etc, esse preço pode chegar, facilmente, a mais de R$ 50,00. Quando se exporta, não se paga nenhum imposto (isso vale para qualquer país e para qualquer produto). Assim, um sapato de R$ 10,00 – US$ 5,00 – chegará aos EUA, por exemplo, pelos US$ 5,00 mais o custo do transporte (um sapato paga poucos centavos de transporte). Depois, se aplica, no total, um imposto entre 6% e 8% (varia conforme o Estado norte-americano), o que levaria aqueles US$ 5,10 para US$ 5,30, no máximo. Depois, virão os custos do varejista, que devem levar o preço a uns US$ 10,00 (puro chute). Quer dizer, comparamos os R$ 50,00 (ou cerca de US$ 25,00), no mercado interno, aos R$ 20,00 (ou cerca de US$ 10,00), no mercado norte-americano. Isso vale, mais ou menos, para países da Europa, embora os impostos, lá, sejam um pouco mais altos que nos EUA. Todos esses cálculos são aproximados, mas dão uma idéia bastante boa do que acontece com o produto exportado versus o vendido no mercado interno – e isso não acontece apenas no Brasil, mas em praticamente, todos os países.
Por que há tanta controvérsia quanto às leis de proteção às importações no Brasil? Quais os países e setores empresariais que mais se opõem à medida, e por quê?
O Brasil somente aplica o processo de antidumping (não é lei) permitido pela Organização Mundial do Comércio – OMC. O dumping é inaceitável e ocorre quando um fabricante vende seu produto a um preço menor que o custo de fabricação, com a clara intenção de prejudicar a concorrência (concorrência desleal). As investigações para se aplicar um antidumping são muito sérias e bem feitas – nos últimos dois anos e meio, aplicamos dezenas de ações e nenhuma delas foi revogada por erros técnicos. Normalmente, se aplica o antidumping colocando-se um sobrepreço (ou um valor específico ou uma porcentagem) no produto importado, para aumentar seu preço e fazê-lo concorrer em condições de igualdade com os produtos internos, ou mesmo, com outro produto importado, mas que chega ao país com o preço correto. Todos os países reclamam quando se aplica antidumping. Mas quem reclama, mesmo, não são os países (reclamam, também, via embaixadas), mas as empresas, pois elas perdem uma moleza.
Qual a relação comercial do Brasil com outros países, por continente? Quais são os principais parceiros hoje, e quais são os mais promissores para o futuro?
Nos últimos anos, o Brasil diversificou muito suas exportações, procurando novos mercados, especialmente na América do Sul, África, Ásia e Oriente Médio, pois nossas vendas externas eram muito concentradas nos Estados Unidos e na União Européia (em 2002, cerca de 45% do total). Hoje, nossos principais parceiros são a China, e, como antes, o Mercosul (principalmente Argentina, apesar da queda, com a crise), os Estados Unidos e a União Européia, mas esses dois, com menos de 30% de nossas exportações.
Como foi recebida a primeira missão brasileira pelo presidente Barack Obama? E pelo Presidente Bush?
Em nenhum dos casos, se tratava de missões, mas sim de delegações oficiais, formadas por membros do governo brasileiro: Ministra-Chefe da Casa Civil (Dilma), Ministro do Desenvolvimento (eu, MJorge) e o Embaixador Brasileiro nos EUA. Ambos foram muito amigáveis e simpáticos, embora Bush tenha recebido os brasileiros no Salão Oval da Casa Branca, quando passou uns 15 minutos conversando com o grupo, e depois, ficou quase duas horas na reunião do Fórum de CEO (formado por dez presidentes de grandes empresas brasileiras e dez de grandes empresas americanas). Obama, para o mesmo evento, apareceu na sala do Assessor Chefe de Segurança Nacional, onde estavam Dilma, MJ e o Embaixador, ficou dez minutos e não participou da reunião dos CEOs. Claro que, quando estivemos com Bush, ano passado, ele estava meio no fim de governo, e Obama está no começo, com muitos e enormes pepinos para resolver.
(2h00… salão… 10 minutos… salinha. Obama: yes, we can be disappointed!!!)
Quais as peculiaridades diplomáticas de cada país visitado? Onde são feitas as reuniões? Com quantas pessoas? Como se vestem, o que comem, como se cumprimentam, as equipes de chefes de estado?
Há países em que a diplomacia é mais “vaselina”, ou mais falante, e aqueles em que é mais direta e objetiva. Os lugares das reuniões variam, dependendo do tipo de delegação e de sua importância, mas podem ser nas sedes de governo, nos ministérios de cada área, ou mesmo, em salões de convenções (até em salões de hotéis). Os homens usam ternos, mas em alguns países, também usam ternos e seus trajes típicos. Os árabes, alabya; africanos, túnicas tribais; hindus, slacks; ou alguns latino-americanos, guyaberas. Na maioria das vezes, come-se a chamada ‘comida internacional’, embora, também, às vezes, sirvam pratos típicos (carneiro, cuscus, alimentos com muita páprica ou curry ou dendê). Os cumprimentos, na maioria das vezes, são formais. No meu caso, depois do primeiro encontro, em países árabes, costumo beijar as autoridades, e em países africanos, dar aqueles abraços de quebrar costelas.
Hoje, saiu na Folha que o prefeito Djalma Berger diz que ter a filha (Lurian) do presidente Lula como secretária de Assistência Social do município de São José, SC, “dá um up grade na equipe”, e que “lá em Brasília não tem dúvida de que ela te abre portas”. A situação é diferente do recente escândalo no senado, com o Presidente Sarney e seus familiares se ajudando para obter vantagens em cargos governamentais?
Na minha opinião, esse prefeito não sabe do que fala. Você já imaginou o que significa um up grade na Prefeitura de São José, no interior de Santa Catarina? Abre portas para que? Que tipo de interesse poderia ter o governo federal nessa Prefeitura para que tenha alguém capaz de fazer lobby? Pode ser que o prefeito consiga ser recebido mais rapidamente por alguns ministros. Mas isso é relativo: se ele pedisse para ser recebido pelo ministro do MDIC, seria recebido, mesmo sem ninguém saber que a Lurian é secretária do Município. Finalmente, não há comparação entre isso e o que ocorre no Senado.
(Eu também abro portas! Abro porta do carro, da geladeira, do elevador…)
Quarta-feira, 19 de Novembro de 2008
Enquanto países desenvolvidos anunciam recessão, o Brasil terá apenas .5 % de desaceleração de crescimento. Isso é realmente um “apenas” ou o apenas é muito?
A desaceleração no Brasil poderá ser menor do que na de outros países, especialmente EUA e Europa, pois ainda temos um mercado interno que precisa comprar, especialmente porque somente agora temos um grande número de consumidores de renda média baixa e baixa (as chamadas classes C- e D+). Naqueles países citados, pode-se dizer que está tudo ‘pronto’ e há muitíssimo menos afluência de novos consumidores a seus mercados internos. Há, desses novos consumidores, muitos imigrantes, que deixam de sê-lo, pois mesmo os empregos de baixa qualificação (reservados para esses imigrantes) desaparecem, com a crise.
Estamos mergulhando num período sinistro: calotes já começam a ter maiores impactos negativos nas economias mundiais. Há como se precaver?
Não há muito o que fazer, a não ser as empresas tomarem mais cuidado ao exportarem seus produtos. Mas como a maioria das exportações é paga com a liberação do produto no local de desembarque e na hora do desembarque, se não houver pagamento, pega-se a exportação de volta. Claro que isso também não é bom, pois envolve grandes custos e faz com que a produção dessas empresas se reduza, o que pode levar ao desemprego para se ajustar essa mesma produção.
Os USA parecem ser os “antecipadores” do que pode acontecer por aqui, num efeito dominó, como o das montadoras. Tendo trabalhado dentro da indústria automobilística, já antecipa os efeitos colaterais que sofreremos?
A situação das montadoras, no Exterior, principalmente nos EUA, é totalmente diferente de suas subsidiárias no Brasil. Lá, as vendas têm caído, sistematicamente, nos últimos anos. Para se ter uma idéia, os EUA produziam 15 milhões de unidades, há 10 anos, e hoje produzem 10 milhões. Além disso, as três grandes carregam uma enorme carga de ineficiência e de falta de produtividade, além de enormes custos, especialmente os trabalhistas, de seguros-saúde e outros. No Brasil, o mercado crescia a 25%, até três meses atrás, enquanto no resto do mundo (menos China e Índia), o crescimento era praticamente zero.
A crise imobiliária foi a ponta do iceberg que não para de derreter. Aqui, bancos começam a dar créditos às classes mais baixas para comprar seu imóvel próprio. O mal uso do cartão de crédito, ou seja, do dinheiro que não se tem mas que se pega emprestado por um alto preço em juros, não pode trazer o mesmo colapso econômico ao Brasil a longo prazo? Não há algo para ser observado no vizinho rico ou as situações são diferentes?
A situação, aqui, é totalmente diferente. O mercado imobiliário dos EUA inflou falsamente, nesses últimos anos, com preços de imóveis tendo subido 60%, em média, desde 2000, período em que a inflação deve ter sido +ou- de 30%. Além disso, os bancos ‘empurraram’ centenas de milhares de empréstimos a pessoas que não poderiam pagar o que compraram (até imigrantes ilegais compraram casas, nesse período). Mais: com essa falsa valorização dos imóveis, os mutuários refinanciaram suas dívidas, isto é, fizeram novas hipotecas, com o novo valor, ficando com a diferença, que foi toda gasta em consumo (compra de carros, viagens etc). Esses papéis frios, pois não tinham lastro, é que criaram esse enorme problema, pois eles foram vendidos de A para B, que os vendeu para C, que os vendeu para D e assim por diante. Quando o primeiro dominó caiu, caíram todos. No Brasil, como os financiamentos imobiliários pelo sistema financeiro privado são muito recentes, e todos os brasileiros querem ter sua casa, ninguém especula com elas.
O que economia subterrânea? É o mesmo que informal? Se representa quase 30% do PIB nacional, não deveria sair do subterrâneo e subir para a formalidade, se for isso?
Sim, informal, subterrânea etc é tudo eufemismo para ilegal. São empresas que não pagam impostos, e portanto, têm altas margens de lucros. Mas a maioria diz que não paga impostos porque esses são altos. Assim, fica o cachorro correndo atrás do rabo.
Durante a semana da Consciência Negra, na qual você foi premiado pelo segundo ano consecutivo, temos: piratas armados da Somália sequestrando petroleiros sauditas; um cantor Dudu e sua esposa BomBom, diante de filhos pequenos, humilhados com maneirismos de macaco e agressões físicas por tripulantes brasileiros da American Airlines; sócios do Clube Paulistano de São Paulo manifestando-se contra o show de Zeca Pagodinho, alegando que a platéia deveria ser do “Corinthians” (de acordo com um email enviado a ouvidoria do clube). O preconceito portanto é apenas racial, social ou econômico no Brasil? O preconceito velado existe? Em que níveis? Só com negros? Qual a posição da mulher no Brasil? E da mulher negra, já que o negro já ganha 1/2 menos que o branco, e a mulher, menos que o homem.
Essa é uma opinião absolutamente pessoal: há preconceito forte, tanto racial quanto sócio-econômico. Nem sempre, velado: quantas vezes você foi servida por um garçom negro em um restaurante de certo nível? Eu nunca fui. É, também, um problema de cachorro correndo atrás do rabo: o preconceito racial e sócio-econômico existe porque os negros 1) são menos preparados – primeiro, porque são bem mais pobres, portanto têm menos oportunidades escolares, o que compromete o futuro; 2) sendo menos preparados, não são respeitados pela maioria, branca ou outra (orientais etc). O preconceito racial contra o negro inclui homem e mulher – mas, pela própria herança cultural, a mulher, geralmente, consegue ser menos preparada, ainda, que o homem, o que agrava a seriedade do preconceito que ela sofre.
A bolha da internet é a mesma bolha financeira?
Pode ser comparada, pois ambas se basearam em avaliações falsas feitas pelo mercado – um, das avaliações das empresas, outro, das avaliações dos riscos embutidos nos papéis sub-prime.
Porque os bancos e países ricos se prontificaram tão velozmente a emprestar enormes somas de dinheiro para o resgate de empresas e nunca apresentaram o mesmo ânimo para acabar com a fome no mundo? Qual dos planos seria mais barato?
Não ajudar as empresas, que empregam mais gente do que o número de esfomeados no mundo teria um único efeito: aumentar o número de esfomeados. O certo seria fazer as duas coisas, o que seria possível se, não um país, apenas, mas todos os países, parassem de gastar com armas, por exemplo, e gastassem em investimentos nos países de maioria de pessoas pobres, especialmente na África, Caribe e Ásia.
Como foi viver a ditadura militar e ser jornalista?
Difícil, mas acho que essa pergunta já foi respondida antes.
Como se driblava a censura, se é que era possível? Perdeu amigos próximos? Qual foi o efeito direto dela na sua vida?
Tentávamos, mas era praticamente impossível, pois era um jogo de gato e rato, com gatos com muito mais poder que os ratos. Não perdi amigos próximos, mas perdi colegas de trabalho e conhecidos. O efeito foi aprender, e isso não é novidade nenhuma, que a democracia, com todos seus problemas e defeitos, é ainda o que melhor existe para os homens.
Por que a pré-sal não se chama Bacia de petróleo de Santos, por exemplo e se chama pré-sal (só pra registrar)?
Porque o pré-sal não fica inteiro na Bacia de Santos Chama-se pré-sal poirque é uma área característica, com três camadas: a grosso modo, a lâmina d’água (cerca de 2 km), a de rochas (cerca de 3 km) e a de sal (cerca de 2 km), abaixo da qual está o petróleo. Fica a cerca de 300/350 km da costa, o que obriga a perfuração e extração muito profunda (em média, 7 km de profundidade), enquanto as bacias, normalmente, ficam a 50 km da costa e são bem menos profundas.
João Bosco, seu conterrâneo, cantou “o Brazil não merece o Brasil”. Verdade?
Sim, uma música dele com letra de Aldir Blanco, parceria que durou anos e criou algumas peças antológicas da MPB.
(Mineiro!)
Será Carla Bruni tão bela ao vivo? Sabia que ela namorou um pai, depois o filho dele, e teve um filho com o filho do namorado-pai? Isso é uma liason à francesa?
Não sei se é liason à francesa, mas ela é realmente muito bonita (eu a vi, uma vez, ano passado, em uma visita com o presidente à Europa).
(Mineiro!)
Parei de acompanhar a graça da novela Satiagraha. O que está acontecendo? Qual o xis da questão ali?
Talvez nunca se fique sabendo, exatamente. O que sei, por exemplo, que o tal de Protógenes fez uma enorme lambança, difícil de ser consertada, e que ajudará os criminosos, no futuro, pois colocou todo o trabalho policial sob suspeita.
Crises nas polícias e mais de 4.000 vagas para delegados no país. Curso de 4 anos para ingressar na PM foi o mais concorrido do vestibular deste ano. Como se explica?
Fácil: todo mundo precisa trabalhar e há, sempre, um grande número de pessoas disposta a entrar no serviço público que, mesmo não pagando altos salários, tem um negócio chamado estabilidade, que vale – e muito – para quem prefere a segurança do emprego do que a competição por melhores posições no trabalho.
Quarta-feira, 27 de Novembro de 2008
(Não ser mineiro nas respostas! Quero entender mesmo!)
Que maluquice é essa? Não fui mineiro em nenhuma! Por que e para que seria?
Banco Santos e Edemar Cid Ferreira devem R$ 667 milhões aos cofres públicos imobiliários. É isso? Onde está o dinheiro? Como se negocia uma dívida assim tão grande? A punição para quem some com esse dinheiro deveria ser menos dura que a de alguém que some com um pão do supermercado para alimentar a família? Ou alguém que é preso por furtar um shampu? Há alguma relação nas penas brasileiras listadas acima e, por exemplo, a do promotor absolvido de disparar 14 tiros em legítima defesa em alguém desarmado? O código penal brasileiro ou os profissionais que excutam o código penal brasileiro precisam de revisão?
Não há negociação de dívida, nesse caso, e sim um processo na Justiça, pois ele está sendo processado para devolver tudo o que tomou dos depositantes. Claro que um sujeito como ele pode pagar excelentes advogados, o que não acontece com quem furta um xampu – mas o sistema é esse e dificilmente mudará. Pessoalmente, acredito que não somente o Código Penal precisa de revisão, mas sim que toda a Justiça precisa. Mas isso não acontecerá, para infelicidade geral.
Os países desenvolvidos criticam veementemente os desmatamentos amazônicos e destruição de reservas e parques naturais importantes pela preservação de espécies, mas quando a serra da Diamantina por exemplo arde em chamas e tem mais de 10% de sua região queimada, nenhuma ajuda externa é extendida. Porque apenas 4 aviões pequenos e 1 maior da FAB atuaram contra o incêndio quando a Empresa OI contratou a Esquadrilha da Fumaça para escrever seu nome do céu de São Paulo? Qual o custo por hora de um evento de marketing assim, e qual o custo de 1 dia de trabalho de apagar incêndios, com contratação de mais brigadistas e deslocamento de aviões?
Aviões para apagar incêndio não têm nada a ver com Esquadrilha da Fumaça, pois são aeronaves totalmente diferentes. Por mais ridículo que possa parecer, o País tem pouquíssimos aviões e helicópteros especializados no combate ao fogo, mas isso acontece nos melhores países do mundo – veja o que aconteceu, mês passado, na Califórnia. Sobre o custo da Esquadrilha, é apenas o do combustível, pois os pilotos são oficiais da Força Aérea e nada recebem por fazer essas apresentações.
(ok, ok… não sei qual era meu trem de pensamento, mas descarrilhou.)
Se três países controlam a indústria farmacêutica no mundo, EUA, Suíça e Alemanha, a quebra de patentes de países como índia e China na fabricação de genéricos que depois são importados no Brasil, pela forte política admnistrativa da Saúde, é justificável? Quando os meios justificam os fins?
O Brasil já tem mais de30% de seus remédios em genéricos – e, isso, em menos de 10 anos, um avanço nunca visto em qualquer país. Também não é verdade que apenas três países controlam a indústria farmacêutica, mas sim que uma boarte das maiores indústrias farmacêuticas estão em três países. Não é uma coincidência que eles sejam os três países mais ricos do mundo, pois as pesquisas custam enormes fortunas, além de empregarem doutores, prós-graduados e técnicos dos melhores do mundo. A política de saúde do Brasil, apesar de tudo, tem feito grandes avanços – por exemplo, somos o único país do mundo que universalizou o sistema de saúde, e o tratamento da AIDS, isto é, colocou para todos o tratamento No caso da AIDS, até a ONU nos premiou por isso. Há muito para fazer? Claro que há.
Se o país exerce funcionalmente políticas de saúde pública como a de distribuição de seringas para contenção do vírus da Aids, não deveria também aplicar regras igualmente rígidas quanto à experimentação das grandes empresas estrangeiras no país, em troca de, uma vez aprovados os medicamentos pela FDA, que os mesmos fossem vendidos a preços muito menores ao país que permitiu que os estudos fossem aplicados em seus cidadãos? Não seria um câmbio justo?
Os experimentos ou testes de empresas estrangeiras, aqui, são feitos com absoluto controle e conhecimento de quem participa da experiência e teste. Mas os testes clínicos são total e completamente proibidos.
Que negócio é esse de câmbio? Você é de origem de fala espanhola? Em Português, é troca.
(hhhmmmppff …c…ño… hhmmppf)
O país desenvolverá suas vias fluviais e marítimas algum dia, assim como voltará a expandir as ferroviárias, ou sempre dependeremos das rodovias?
As ferroviárias têm sido expandidas, e muito, nos últimos cinco anos. As fluviais dependem de aprovação dos órgãos de meio ambiente, mas o processo está em andamento – infelizmente, as vias fluviais mais complicadas (quase impossíveis) são aquelas nas quais mais se produz – e as mais fáceis de se implementar (como no Pantanal e Amazônia) têm muito menos o que transportar.
A ministra Dilma já não aparece mais de óculos em coletivas, assim como seu colega José Serra. Ambos considerados pouco carismáticos aos eleitores, são aconselhados pelos marketeiros a mudar o visual para colecionar votos. A propaganda é a alma do negócio? A ministra seria sua escolha de sucessora presidencial?
Claro que é. Para mim, os dois seriam bons candidatos.
Você gostaria de ser presidente do país? Tem esse sonho de infância ou queria mesmo é ser caminhoneiro?
Não, não gostaria e nunca sonhei com isso. Ser caminhoneiro traz, em si mesmo, uma sensação de liberdade.
Para que servem os servidores? Quantos são e o que fazem?
Para trabalhar – e trabalham muito.
Qual o nível de escolaridade da sua família, até onde você saiba?
Até onde sei, a maioria, das últimas duas gerações, é universitária – veja o caso de vocês, por exemplo: 100% universitários e com uma mestra.
(acho que não…)
Como a educação recebida formou seu carácter?
A educação formal formou pouco. Formou mais minha família e o trabalho – tive sorte de ter trabalhado em empresas de forte ética nos negócios e nas relações interpessoais.
Quem são alguns políticos exemplares na vida pública brasileira?
Milton Campos, político mineiro, que considero um dos melhores que tivemos.
Você conhece a teoria dos 6 graus de separação? Eu estaria a 2 graus apenas de Spot, cachorro do presidente Bush, e de Obama? E a 1 grau de Lula. E também a apenas 2 graus do Papa??
Não conheço, portanto nada tenho a dizer sobre isso.
(Credo!)
Sexta-feira, 29 de Agosto de 2008
Com a surpreendente nomeação de Sarah Palin para vice de McCain, que aborrece os Republicanos conservadores, mas que interessa às “soft” democratas conservadoras (e não às eleitoras de Hillary), americanas mães de classe média, como o governo brasileiro reagiu?
Sinceramente, o governo brasileiro não reagiu, pois pelo menos por enquanto, essa indicação é pouco importante.
Como funciona a hierarquia política? Quem são os reais caciques?
Se entendi, o Presidente, alguns ministros, os presidentes da Câmara e do Senado, o presidente do Supremo Tribunal, dois ou três governadores, idem senadores, idem de deputados.
Aos que dizem que tudo na gestão Lula é questão de sorte, mesmo com a vexaminosa mancha vermelha da corrupção petista exposta, o que você diria, como ministro e como cidadão que vota?
Sorte? Como, sorte, se Lula trabalha 12 horas por dia e a maioria de ministros, também?
Os resultados do crescimento econômico se dão porque há uma política fiscal séria, há controle de inflação, há ambiente positivo para a instalação de novas empresas, há previsibilidade,há segurança institucional, há ampla, completa e total liberdade de Imprensa e por aí vai. Mancha vermelha da corrupção petista exposta? Isso já está no lixo da história, pois ocorreu no mandato anterior. Esse é outro governo, com outros ministros e com outra história.
O que significa que o governo terá poderes na Pré-sal? O que ficou decidido? O que isso significa?
O governo não terá poderes, apenas. Pela Constituição, todas as riquezas minerais do país são da União e do povo brasileiro. Se “o que ficou decidido?” significa como esse monte de petróleo será retirado e qual será a destinação de alguns trilhões de dólares que ele vale, ainda nada está discutido. Significa que uma comissão de ministros estuda, com vários grupos de trabalho, qual seria a melhor maneira de se decidir
1) como explorar essas novas e enormes reservas de petróleo;
2) como dividir entre Estados e Municípios (hoje, esses valores ficam muito concentrados em poucos Estados e poucos Municípios).
Onde serão desenvolvidos e produzidos os equipamentos para pesquisa? Haverá parceria privada? Internacional?
Uma boa parte será produzida no Brasil, mas outra parte será produzida no Exterior, pois ainda não temos capacidade de produção (temos poucos estaleiros, pois recomeçamos – inclusive, pelo MIDC – a reconstruir os estaleiros brasileiros a partir de meados do ano passado. Mas para todos os equipamentos que serão encomendados no Exterior, haverá cláusulas de transferência de tecnologia, para que, no futuro, eles possam ser produzidos aqui, gerando mais empregos. Haverá parceria privada nacional e parceria privada internacional.
Como o cidadão comum pode participar, em termos de lucro, com as recentes descobertas das bacias petrolíferas no pais?
É exatamente isso o que se discute nesse conselho de ministros, pois a quantidade de dinheiro que será retirada do pré-sal é enorme. É tão grande que, se fosse entrando na economia do país, poderia prejudicá-la, e muito, tendo por consequência efeitos muito negativos no que você chamou de cidadão comum, e que eu preferiria chamar de todos os brasileiros.
Pergunta teórica: se McCain morresse (está com 72 anos) e deixasse sua VP como representante Democrata ao poder, quais seriam suas chances? Sendo que tem mais de 80% de aprovação no Estado (Ok. Alaska), é uma ambientalista, e tem mais experiência executiva que Obama.
Não entendi. Se McCain morrer, independentemente de sua idade, sua VP não seria representante democrata ao poder, pois ela é republicana.
(Ok. Nada como gastar tempo de ministro com uma pergunta teórica idiota… vexame total…)
Como a expertise de Palin em energia poderia ajudar ou prejudicar futuras negociações com o Brasil?
Não acredito que, realmente, ela tenha qualquer expertise em energia. Uma governadora (ou governador) do Alasca não tem por que ser especialista em energia. Suas preocupações com energia, sim, podem ajudar o Brasil, por exemplo, se ela for favorável à retirada da sobretaxa de US$ 0,54 sobre caada galão de etanol brasileiro importado pelos EUA…
Terça-feira, 11 de Setembro de 2008
Qual o impacto dos problemas políticos vizinhos ao Brasil?
Pode criar vários problemas, entre eles o de redução do fornecimento de algumas matérias-primas importantes, como o gás da Bolívia. Ontem, por exemplo, deixamos de receber gás por algumas horas – e esse gás é fundamental para as indústrias brasileiras, pois muitas delas converteram seus processos produtivos para o gás, deixando de consumir energia elétrica, mais cara. Basicamente, é isso, pois os problemas internos desses países não impactam nossos processos políticos e/ou institucionais.
Por quê a energia nuclear tem opiniões tão divergentes? Qual sua posição quanto a isso?
Basicamente, porque
1) ocorreram grandes discussões sobre a segurança das centrais nucleares para geração de energia, especialmente nos anos 70 e 80,devido a alguns (poucos) acidentes (como o de Three Mile Island, nos EUA, e o de Chernobyl, na antiga União Soviética). Essa é a posição de muitas ONGs, como o Greenpeace, que se posicionam contra a energia nuclear;
2) porque muitos fazem relação entre energia nuclear e a bomba atômica, usada em Hiroshima e Nagasaki, durante a II Guerra;
3) porque muitos temem que os países que controlam o ciclo energia nuclear podem se aventurar a fazer a bomba atômica;
4) porque os rejeitos nucleares criados a partir da queima do urânio precisam ser guardados com extrema segurança e permanecem ativos por centenas de anos. Mas essas questões estão cada vez mais enfraquecidas, e hoje, já se considera que a energia nuclear é muito mais limpa que a maioria dos processos, especialmente aqueles que usam combustíveis fósseis (do petróleo). Sou favorável ao uso da energia nuclear para fins pacíficos, como a geração de energia, e para uso como combustível em submarinos e navios de grande porte. Já manifestei essa opinião em reunião ministerial, quando o País decidiu que continuaria o programa nuclear brasileiro para fins de produção de energia.
Em que sentido os grampos remetem ao tempo de ditadura, para os que nem haviam nascido na época?
Porque, como se dizia na época, o Serviço Nacional de Informações – SNI (um serviço secreto do governo) espionava todos aqueles considerados “não amigos” ou inimigos do regime. Os grampos eram muito usados, embora a tecnologia fosse bastante diferente da de hoje (os grampos eram feitos diretamente nos postes, colocando-se gravador na entrada dos fios de telefone nas casas, ou na entrada das caixas de distribuição na entrada dos prédios), inclusive sem autorização judicial. Teme-se que a proliferação da autorização para grampear possa criar um estado policial, que é a última coisa que se pretende numa estado democrático de direito.
Colocar o exército para garantir a segurança do cidadão no ato do voto é um retrocesso desde as Diretas Já?
Claro que não. Ao contrário, o Exército será usado para garantir o direito do voto em lugares em que o crime organizado tenta pressionar eleitores para que votem em candidatos pré-determinados. Por enquanto, o único Estado em que o Exército será usado para garantir a tranqüilidade das eleições é o Rio de Janeiro, e mesmo assim, a pedido do próprio Estado.. Ao contrário do que se possa pensar, a presença do Exército é para garantir a democracia (o direito de voto).
O Brasil importará engenheiros indianos para fazer parcerias com os brasileiros, já que são internacionalmente tidos como geniais na área?
Isso depende das empresas – o governo não “importará” indianos ou outros –, mas se elas decidirem trazê-los, virão em número limitado, pois a legislação trabalhista brasileira – como aliás, a de todos os países – é restritiva para essa “importação” de mão-de-obra. Além disso, os sindicatos, por motivos óbvios, reagem muito fortemente contra essa prática.
Os países sul-americanos deveriam ser mais unidos? Quais as principais demandas de cada país (ex. preço do gás boliviano) e do Brasil em relação aos vizinhos?
Já são bastante unidos – e essa união tem se aprofundado com esse governo. Não temos demandas com relação aos vizinhos, eles é que têm em relação a nós, que somos enormes, muito mais ricos, muito mais industrializados, com um enorme mercado interno, etc, etc.
A reforma educacional no Brasil é utópica? Podemos salvar o país do analfabetismo e ignorância dos direitos e deveres do cidadão?
Precisaremos muito mais vontade e dinheiro para resolvermos o problema da educação – e não do analfabetismo, cada vez menor e praticamente concentrado em adultos e não em crianças e adolescentes. Hoje, quase 100% das crianças brasileiras estão na escola, mas esse número cai muito quando se avaliam os dados do 1º. e 2º. graus, para não falar da enorme redução para as faculdades. Quando se resolver esse problema da educação, resolveremos o problema da ignorância dos direitos e deveres do cidadão, pois ambos andam juntos.
Com os números de reciclagem brasileiros tão positivos, fica óbvia a rapidez de aprendizado e adaptação das pessoas. O ensino de forma positiva seria talvez mais eficaz que o punitivo, i.e. multas, restrições?
Temos que mudar muito o sistema educacional do País, mas isso somente será feito com aplicação de enormes verbas para treinamento e qualificação de professores, que também precisam de salários dignos. Apenas no mês passado, decreto do Presidente obrigou a que se pague um salário de, no mínimo, R$ 950,00 para os professores – em algumas cidades e estados, o professor ganha o salário-mínimo, de cerca de R$ 400,00.
Temos professores preparados para preparar funcionários saídos das escolas técnicas tão faladas em programas políticos?
Não, não temos professores nem preparados, nem em número bastante para as novas escolas técnicas que estão sendo criadas pelo governo federal. Na minha opinião, esses cargos deveriam ser preenchidos por profissionais que trabalham na indústria e poderiam se tornar professores, mesmo continuando com seus atuais empregos.
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